Fórum MetroSerra de Inovação
Participei (25/06/2025) de uma reunião bastante interessante denominada I Fórum MetroSerra de Inovação, na UCS Farroupilha. Caso me coubesse espremer o objetivo do evento, diria “promover confiança entre os atores da tríplice hélice: Governo, Academia e Setor Produtivo (Serviço, Indústria e Startups)”. Esforços como este surgem ornamentados com valorosas ideias forças: colaboração, cooperação, inovação aberta, integração, esforço conjunto, articulação, interconexão e participação social.
Ouvindo aqueles diversos atores, imaginei-me no mito da caverna. Em meio ao absoluto breu, projetava-se na parede da caverna, por meio de um canhão de luz, os chamamentos para que se desenvolvessem trabalhos de modo alinhado e em conjunto e, consequentemente, com maior eficiência e inclusão. Até então, projeções nobres, louváveis e inquietantes.
Agora o que me confundiu. Ao sair da caverna ad hoc, é sugerido como subterfúgio a adoção de um artefato chamado Propriedade Intelectual (PI). Não tenho qualificação para discorrer sobre este assunto em profundidade, o pouco que sei (penso que sei) é que se trata de um instrumento para blindar segredos fabris (marcas e patentes), muito próprio da era industrial. Sinceramente, por considerar algo contraditório ao mote da reunião, esperava – no mínimo – que a tal PI tivesse sofrido transformações e adaptações para se adequar aos tempos modernos. Intriga-me: como integrar <capacidades e potencialidades> levantando barreiras de proteção a troca de conhecimento? [1] Talvez, haja dever de casa ou de consciência por fazer. Na minha cabeça, sem querer politizar mas já politizando, é como se declarar assíduo defensor da transparência pública e decretar sigilo de 100 anos às informações “consideradas pessoais” (cartão corporativo). Hipocrisia!
I’m sorry, salvo o que eu não entendi, vamos ao que eu aprendi. Apreciei uma nova abordagem no que tange a LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados, num viés mais flexível e produtivo, sem ser taxativamente um impeditivo e “ponto final”. Bem … foi a minha interpretação. E outra descoberta que achei ousada foi o CPSI – Contrato Público para Solução de Inovação. Trata-se de uma modalidade especial de licitação, regida pelo Marco Legal de Startups, que prega a lógica de “problem-based acquisitions”. O gestor público se isenta de ter que retirar um coelho (solução) da cartola mas cabe-lhe explicar – bem direitinho – o problema que tem que ser resolvido, lançar o desafio aos “luminares em processos/tecnologias” e escolher a melhor dentre as soluções (ou não, caso nenhuma atenda as expectativas e valide o problema). É inovação, há risco intríseco, lembra! Quer fuçar mais, explore o Toolkit do Marco Legal de CT&I.
E, por fim, a cereja do bolo foi a fala da professora Ana da UCS. Tenho monitorado o projeto “sistema de coleta de dados por dispositivo IoT (sensoriamento) para cidades inteligentes”. Conforme mencionado na palestra, um projeto universitário consiste de início, meio e fim; ciclo após o qual, o projeto assume um outro escopo de maturidade (novas ações e responsabilidades). Eu havia pensado num outro termo [2] para descrever o status apresentado, mas vou normalizar: o projeto está no limbo. Tomará que os gateways encontrem um rumo prático e venham agregar valor ao ecossistema.
Pra mim (mero representante da sociedade civil), estes foram os melhores momentos, porém teve muito mais: [3] [4] [5] [6] [7] [8]. Fica a aposta e curiosidade para uma segunda rodada.
Registro de provocações nas entrelinhas, mordiscando bem miudinho pra ninguém se zangar:
- [1]
- Sei bem o quanto fomos instigados a venerar segredos: a fórmula da Coca-Cola; a arquitetura e projeto de chips de última geração; ou o processo de enriquecimento de urânio. Por conta deste caldo cultural arraigado (chamo de culto a avareza do conhecimento) somos condicionados e adoradores do carimbo de SIGILOSO, o que pode “empurrar e continuar empurrando” o legado ladeira abaixo e manter “emperrado” o decolar do progresso. Tudo bem, sabemos que a Indústria é refém deste modus operandi. Agora, estamos tão habituados – status quo – que já não nos causa a menor estranheza, ver a universidade ser pontuada por entulhar pesquisas científicas (Papers) ao invés do pragmatismo de aplicar o conhecimento.
- [2]
- Inicialmente, a figura que me veio foi de um “filho órfão”; sem pai, sem mãe e carente de perspectiva. Em situação similar provocávamos no EB: “ninguém quer assumir a paternidade do filho feio”.
“Quando duas pessoas trocam seus pães, cada uma volta com um pão. Quando trocam ideias, voltam com duas ideias”.
– Ditado popular, na tentativa de acalmar os ânimos nestes tempos de acirrada polarização.