Inteligência artificial: nua e crua

IA subjugada pelo tabuleiro

IA subjugada pelo tabuleiro

Tá virando uma comédia essa história de inteligência artificial (IA ou AI). Virou moda agora colocar o nome de uma pessoa numa “gentalha” de sistema – mais arcaico que o pobre do ábaco – e dizer ser IA. Um banco resolveu dar o nome de “Bia” ao insuportável Call Center e passamos todos a ser felizes. Que tal a “Joice”? Hoje descobri a existência de uma recém-nascida denominada “Elis”, da Justiça de Pernambuco, que usa “inteligência artificial” para acelerar processos. Olha lá, sem bisonhice hein: recruta-bot MAX Wolf Filho.

Quer a real? Quando precisamos do serviço da empresa, tá lá um avatar com uma voz bonitinha e sensual pedindo para você digitar o CPF e uma montoeira de números (famigerada URA ou desconjurado Chatbot). Por outro lado, quando querem vender ao cliente “produtos casados” ou ofertar duvidosas promoções, pode crer, logo aparecerá um ser de carne e osso, chateando ao ponto de fazê-lo se cadastrar para bloquear as ligações, apelando ao site Não me Perturbe. Infelizmente, digo por experiência própria, não adiantará de nada o cadastro.

Gentem… é claro, formidável o desenvolvimento de sistemas que colaboram para aprimorar e automatizar tarefas repetitivas e enfadonhas que estafariam qualquer ser humano. Aliás, segundo uma manchete passada, aconteceu o inacreditável: “contagem manual de votos em eleições na Indonésia causa morte de mais de 270 trabalhadores”. Isso é o que eu chamo de dar o sangue! (atitude “parecida” com as das nossas pessoas do Congresso Nacional)

A classe política não me desvirtuará do caput deste artigo!

Há de fato trabalhos valiosos, sérios e focados na busca desta inovadora fronteira da sapiência; porém, “por safadeza” ou sei lá, vejo que tem muito mais charlatões se apropriando indevidamente do termo e vulgarizando-o por puro marketing, sem sequer imaginar o quê, um dia, virá a ser Inteligência Artificial.

A confusão a respeito de AI, já se manifesta faz um bom tempo e faço-lhe rememorar a apoteótica partida de xadrez, em 1997, em que o incrível enxadrista Garry Kasparov foi derrotado por um ““computador””; cujo resultado deveu-se ao mérito do mais incrível, ainda, algoritmo (“receita de bolo”) desenvolvido por programadores. Vejam bem, não foi o computador Deep Blue que derrubou Kasparov, foi o algoritmo capaz de analisar, com competência, aproximadamente 200 milhões de posições por segundo, sem piscar! Capite?

O dia D da verdadeira inteligência artificial, profetizando, ainda vai demorar a chegar, em razão do monumental salto tecnológico que representa. Ao falar em inteligência, estamos falando em algoritmos capazes de autocriar novos algoritmos reveladores em tempo de execução, estabelecer autonomamente synapses imprevisíveis, contudo coerentes. Não entendeu nada, então vou traduzir: uma máquina capaz de se reinventar ou se  recriar!

Por exemplo, o piloto de assistente de estacionamento (PAP) embarcado em alguns automóveis é indubitavelmente um feito tecnológico. O motorista fica de braços e pernas cruzadas enquanto o “sistema” – por conta do algoritmo – mede, calcula e estaciona o carro. Agora, caso exista uma placa informando que a almejada vaga é exclusiva para idosos, a menos que o algoritmo sofra um “baita” incremento, não há a menor possibilidade da “inteligência artificial” (que não existe) por a mão na consciência e resolver esta parada.

Eis uma odisseia digna da IA: o dia em que uma máquina for apresentada aos mistérios do “buraco negro” (solte sua imaginação com moderação) e conseguir desvendar os segredos do universo (solte sua imaginação sem moderação), teremos chegado a um lugar extremamente fabuloso e perigoso. Fabuloso pelo excepcional poder computacional (cálculo quântico e armazenamento de Yottabytes) do “cérebro” artificial; perigoso por conta da mais absoluta frieza emocional e zero de senso crítico da máquina.

A trupe de IA vai me desculpar, mas a atual machine learning está mais para machine training (treinada ou adestrada), com direito a condicionamento operante repetitivo (Skinner adaptado) e percentual de acerto atrelado ao volume de dados “pré-gabaritado” consumido. Portanto, infelizmente, não chegamos (humanidade) ao patamar de criar “inteligência artificial”; na verdade, realiza-se uma metamorfose das noções de probabilidade e estatística embasada no atual poderio computacional e no abissal volume de dados. Dói na alma ouvir tão equivocadamente “inteligência artificial”; talvez, soasse menos pior “aprendizado de máquina” – mesmo assim sofrível -, pois a máquina é burra por nascença (“se 1 faça A, senão B” e nada mais).

Quer saber: não adianta, não; relaxa e goza! O inapropriado nome de batismo já vulgarizou e temos que encará-la nestes termos: nua e crua. Um viva a subjugada e despudorada “inteligência artificial”! Faço votos que o MAX galgue promoções até o posto de General-de-Exército e que, mais adiante – uns 35 anos -, faça jus as condecorações por conta do mérito intelectual e competência criativa de fato. Amém!

Dica: segue uma boa referência de por onde começar a se perder nas profundezas da “Inteligência Artificial” (eca): livro online, gratuito e em português – Deep Learning Book.

 

Hoje, tenha complacência: “IA, ainda, não é inteligência. Apenas reproduz comportamento que parece ser inteligente”.

1 comentário

  1. Mario Câmara em 10 de outubro de 2021 às 11:44

    Em meados de 2021, acrescido ao artigo o ilustre recruta-bot MAX. Que a força esteja com ele!

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