Meu carinho

Hoje, dia de São Jorge, é também data natalícia do marinheiro Lucas, meu Pai. O velho – danado de forte – completou 84 anos de uma vida longa e sendo bem aproveitada. Nesta missiva, pega carona minha mãe que para complicar nossa vida, sempre teve umas três datas de aniversário. Como quem tem várias não tem nenhuma, ninguém sabe na Vera – pra valer – sua data de nascença.

Biulinha, minha irmã, andou revirando uns alfarrábios e rememorou-me uns antigos escritos, escaneando e mandando pelo WhatsApp. Coisas de agora.

Saí e distanciei-me de casa jovem. Naqueles tempos para contatar meus pais, dirigia-me as tais cabines das centrais telefônicas na cidade de Resende. A sistemática era escrever o número do telefone numa ficha de papel e aguardar até que a telefonista dispusesse de plugues livres e completasse a ligação. Quando não rolava o telefonema a solução era escrever uma carta, vejam só!

Pois bem, estas pré-históricas cartas estão se desbontando (original a lápis, pra corrigir na hora), pegando fungo e se enterrando nas profundezas de um baú, o qual periga ir pro lixo. O mínimo que me cabe é dar-lhes sobrevida e, deste modo, reforçar todo carinho e admiração pelos meus pais. Sem mais delongas e ipsis litteris o original, lá vai. Sempre, amo-os!

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Ao meu pai (sempre foi um homem de poucas palavras):

“A satisfação está no esforço, e não apenas na realização final. Apesar de não ser um desenho perfeito, espelha o meu carinho pelo senhor, meu pai.”

 

 

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A minha mãe (intensa, explosiva e teimosa):

“Uma simples mulher existe que, pela imensidão de seu amor, tem um pouco de Deus;

pela constância de sua dedicação, tem muito de anjo;

que, sendo moça, pensa como uma anciã;

sendo velha, age com todas as forças da juventude;

quando ignorante, melhor que qualquer sábio desvenda os segredos da vida;

quando sábia, assume a simplicidade das crianças;

pobre, sabe enriquecer-se com a felicidade dos que ama;

rica, empobrece-se para que seu coração não sangre ferido pelos ingratos;

forte, estremece ao choro de uma criancinha;

fraca, entretanto, se alteia com a bravura dos leões;

viva, não lhe sabemos dar valor, porque a sua sombra todas as dores se apagam;

morta, tudo o que somos e tudo o que temos daríamos para vê-la de novo, e dela receber um aperto de seus braços, uma palavra de seus lábios.

 

Não exijam que diga o nome desta mulher,

se não quiserem que ensope de lágrimas esta carta,

porque eu a vi passar em meu caminho.

 

Quando crescerem vossos filhos,

leiam para eles esta carta;

eles vos cobrirão de beijo a fronte e vos dirão que um pobre viandante,

em troca de suntuosa hospedagem recebida

aqui deixou para todos o retrato de sua

própria MÃE …”

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Voltando a real.

Machuca-se … quem comtempla as rosas e não atenta aos espinhos. Era mais confortante a presença mesmo silente que aturar-lhe fora do prumo. Tudo é ensinamento, um aprendizado marcante foi tomar cuidado para evitar os excessos mundanos.


 

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