Verdade inconveniente

Cala-te boca …

Lá vou eu meter o bedelho onde não sou chamado. É horripilante quando aparecem os engenheiros de obra pronta. Porra, mas em razão de termos todos nós – gaúchos – sido afetados, diretamente ou indiretamente, não serei indiferente.

As mudanças climáticas, não é de hoje, tratam-se de uma verdade inconveniente. Em 2021, em plena COVID-19, marcou-me um discurso do ministro de Tuvalu (aonde diabo é isso) para a conferência COP 26, no qual pedia socorro para acudir sua ilha do risco de desaparecer. Simon Kofe, de terno e gravata, discursava com água até o joelho, tentando sensibilizar o mundo, quanto ao aumento do nível do mar causado pelo aquecimento global. Alguns devem ter friamente calculado: paciência, faz parte dos efeitos colaterais que – por azar – ameaça engolir 12.000 habitantes de uma remota ilha na polinésia.

À la discípulos de Pôncio Pilates, tudo bem se for do outro lado do mundo!? Por enquanto, estamos aliviados do “peso na mochila” das guerras dos outros: “eles, que são brancos, que se entendam” ou se desentendam.

Gosto e curto Porto Alegre e, justo por isto, já me deleitei com as melhorias recreativas, novo Shopping Pontal e restaurantes panorâmicos da orla do Guaíba [1]. Agora uma pergunta que era proibido de se fazer: como ficarão estas coisas quando [2] a água subir? Sinceramente, em face do meu testemunho ocular do Guaíba, após seis anos como morador de PoA, questionava-me quanto ao investimento de capital e aporte imobiliário na orla; agora nunca poderia imaginar que a realidade iria superar em tanto a minha dissonante preocupação de inundação.

Penso no descaso com os muros de contenções (24 km externos e 44 km internos), 14 comportas e 23 casas de bombas como um descrédito, diante de um sistema de proteção contra cheias “ultrajado”, por ausência de manutenção e aprimoramento. Minha opinião … opinião, por mais gabaritados (tier rating 😮 : 99,5% ao ano) que estivessem os aparatos, por conta do volume d’água, seriam ineficientes para segurar as inundações (“está sendo o desastre hidrológico perfeito”). E justifico a minha pouca fé no muro da Mauá, calçado no fato de ter sido uma solução desenhada para uma realidade da capital gaúcha de 1970, não para uma grande Porto Alegre de 2024. A cidade avançou e o sistema “anticheia” foi – literalmente – submergindo; digo mais, talvez o muro seja tão somente a casa “A1” do tabuleiro de xadrez. Pode ser que analisando o todo, contemple-se soluções mais modernas e eficazes [3] que venham a apontar a adequação (ou não) do muro, diante de um adversário com tamanha volatilidade e força. Como o meu amigo Itamar disse, que sua mãe dizia: “filho não tenha medo de ninguém; só de Deus e da água”.

O fato é que precisaremos parar, pensar e repensar. Voltar pra prancheta (curvas de nível, simuladores pluviométricos, dinâmica dos fluídos, estudo das bacias hidrográficas e planejamento urbano) aos invés de tão somente colocar sacos de areia para escorar as comportas do pobre muro. Senão, por mais reforçada que possa ser a barricada; a água – perspicaz, ardilosa e volumosa como nunca – achará uma brecha; e ala pucha, tchê.

Barragem de Brumadinho, afundamento de solo em Maceio e inundações no RS (além do desastre há muitos imbróglios por trás da cortina) servem de exemplos do quanto o poder do vil metal é capaz de aquebrantar quaisquer regulamentações ambientais, quando existem. Lamentavelmente, são episódios calamitosos a serem brevemente esquecidos, exceto pelos afetados; até que surja uma próxima comoção nacional.

Neste momento grave, insano e triste, pesa a força da solidariedade e empatia do povo brasileiro. Nós gaúchos (não sou gaúcho; no entanto, admiro e faço parte deste povoado regional de pessoas aguerridas) agradecemos a tão necessária ajuda! 

 


Registro de provocações nas entrelinhas, mordiscando bem miudinho pra ninguém se zangar:

[1]
O fabuloso pôr do sol do Guaíba e a orla toda “produzida” angaria votos. Já investir num sistema de proteção contra cheias que fica escondido e sem saber quando seria empregado; não dá ibope.  Faltou fazer as contas: (custo das manutenções por anos) x (despesa para reconstrução da cidade por conta da inundação). Como dizem os “gestores públicos”, por favor, não é hora de apontar dedo; mas acho que o trade off  deu “ruuuim”: sem orla e sem casas.
[2]
Quanto de chuva era a variável de fato imprevisível; quando era mera questão de tempo e, infelizmente, o cronômetro acaba de ser zerado até a próxima catástrofe. “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.”​
[3]
ALERTA não cabe como plano de prevenção (Plano “A”). Quiçá, já na condução do desastre, como plano de mitigação (Plano “B”, quer dizer, ferrou … “A” não funcionou).

 


“Tenha resiliência, porque tudo passa!”   – Sabrina Führ, acalentando os gauchinhos, contando sobre a enchente no formato de quadrinhos. Toda ajuda é bem-vinda.

“A natureza nos ensinando como somos pequenos e como tudo na vida depende dela.”

4 comentários

  1. Mario Câmara em 13 de maio de 2024 às 11:34

  2. Mario Câmara em 12 de maio de 2024 às 09:52

  3. Mario Câmara em 8 de maio de 2024 às 15:10

    Triste e inacreditável esta calamidade que assola o nosso Estado do RS. Apresenta-se aos nossos olhos o drama ocasionado pelo desastre climático e custa-nos acreditar nas imagens das diversas perdas (humanas, patrimoniais, infraestruturas, etc). No entanto, apesar do incontestável, ainda temos os eternamente incrédulos: nas mudanças climáticas; na terra redonda; do homem ter pisado na lua; na guerra no Kuwait ou na Faixa de Gaza (justifica-se, de certo, uma superprodução de Hollywood); ou na ressurreição de Jesus Cristo (sem uma live do corpo sendo abduzido por divina providência). Eu simplesmente cansei desta gente terrivelmente “esperta”, que só acredita – pra valer – na lacração das redes sociais, seguindo cegamente seus influencers digitais. E, gran finale, julgam-se o “suprassumo” do ser humano … afiados para criticar e inservíveis pra ajudar; quando não atrapalham, já que os “porqueiras” difusores das notícias falsas são iguais plantas daninhas, estão sempre por aí.
    Não posso esquecer da cereja do bolo dos negacionistas: necessidade de contar voto a voto no papel, o que me reporta a frase: “o bom julgador, por si julga os outros”. Realmente, todo aquele que se julga capaz de burlar urnas de um processo eleitoral, que a priori são os mesmos incorruptíveis que consideram tão normal adulterar um cartão de vacinação; de fato, sobra-lhes razão moral para ficar em polvorosa.

  4. Mario Câmara em 7 de maio de 2024 às 12:23

    Diga-me: focar no problema ou na solução?
    null

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